terça-feira, 12 de março de 2013

ESTUDO PROBLEMATIZADOR




Salomão Benchaya[1][2]

            O Estudo Problematizador é uma metodologia de estudo baseada em noções do construtivismo pedagógico. Como metodologia, entende-se um conjunto de métodos, técnicas, procedimentos ou atividades selecionadas e organizadas para atingir um determinado objetivo. Enquanto o ensino tradicional é centrado na figura do professor e no seu saber, onde o aluno é um mero “receptor” de informações, a problematização estimula e desenvolve nos alunos atitudes críticas, o que requer um preparo especial desse professor.
Fácil é presumir-se que a adoção dessa metodologia no meio espírita encontrará sérias resistências face à postura de pregação e de doutrinação usuais entre os que divulgam o espiritismo. Os grupos de estudos que a adotam fogem do modelo de sistematização  tradicionalmente implementado para o ensino do Espiritismo, onde a preocupação do coordenador é “transmitir” o conhecimento.
Essa metodologia da problematização, segundo Juan Diaz Bordenave, Consultor Internacional em Comunicação e Educação, “partilha com outros métodos construtivistas alguns princípios fundamentais, tais  como:
·         Parte-se da realidade, com a finalidade de compreendê-la e de construir conhecimento capaz de transformá-la;
·         Utiliza-se o que já se sabe sobre a realidade (conteúdos), não como algo absoluto e definitivo nem como um fim em si mesmo, mas como subsídio para encontrar novas relações, novas “verdades”, novas soluções;
·         Os protagonistas da aprendizagem são os próprios aprendentes. Por isso acentua-se a descoberta, a participação na ação grupal, a autonomia e a iniciativa;
·         Desenvolve-se a capacidade de perguntar, consultar, experimentar, avaliar, características da consciência crítica.”
A maiêutica, de Sócrates, é precursora da metodologia da problematização.
Jesus, também, ao empregar parábolas e fazer perguntas aos seus ouvintes, empregava a problematização como forma de ministrar seus ensinos.
O estudo problematizador tem por finalidade o aprofundamento do conhecimento espírita – não só a sua “transmissão” -, bem como a produção de cultura, retirando os integrantes dos grupos do papel de meros expectadores e tornando-os produtores de conhecimento. Fundamenta-se em princípios tais como unidade entre experiência (mundo vivido, prática de vida) e ciência, visão dinâmica da verdade (transitoriedade) e unidade entre razão (conhecimento racional, estabelecido) não-razão (sensibilidade, afeto, intuição).
No estudo problematizador, os conteúdos não são colocados como verdades pré-estabelecidas nem acabadas e o coordenador não é um depositário de saber que simplesmente deve transmitir as informações. Trata-se de questionar, investigar, reelaborar as informações recebidas, problematizar, enfim, numa postura condizente com a própria natureza da Doutrina Espírita - dinâmica e progressista.
Para tal, a metodologia do estudo problematizador fundamenta-se, primeiramente, no que chamamos de tomada de consciência que é o ato pelo qual o sujeito se apodera de forma intelectual de um dado da experiência ou de seu próprio conteúdo e, ao mesmo tempo, é apoderado afetivamente por esta mesma realidade. Em segundo lugar, baseia-se no diálogo, em uma concepção de grupo enquanto um espaço de encontro de diferenças (que são respeitadas), onde os sujeitos se afetam mutuamente. Finalmente, vê o papel do coordenador como processualidade (em constante construção), podendo ser seu próprio saber criticado e questionado. Nesse sentido, o coordenador atua como um provocador, devendo fomentar o questionamento, a problematização entre os participantes.
            No Estudo Problematizador não há a preocupação com o "vencer conteúdos". O programa vai sendo paulatinamente elaborado e cumprido com e pelo grupo, com flexibilidade, corrigido e aprofundado, a partir dos seus interesses e necessidades, com intenso envolvimento dos seus membros. Aqui é fundamental que o coordenador estimule o grupo a refletir, que não responda às dúvidas, mas que ajude o grupo a saná-las, promovendo o crescimento do mesmo, o de seus membros e crescendo junto.
O saber acumulado (conhecimento construído por outrem contido nos livros) não é considerado definitivo, mas a base sobre o qual o grupo constrói o seu próprio saber.



[1] BENCHAYA, Salomão Jacob. Da religião espírita ao laicismo: a trajetória do CCEPA. Porto Alegre-RS: Imprensa Livre, 2006.
[2] Economista, diretor do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. E-mail: ccepars@gmail.com